PARAÍBA

POEMA

BALADA DO AMOR BANDIDO

Astier Basílio

 Não a galope, a cansaço.

O chapéu cobre o seu hoje.

Do sono, cuida o cavalo;

as mãos ao querer do coldre.

Revê, na poeira, os crimes

alguns contam cicatrizes

que nem quando está nu mostra

Confere, na própria carne,

as medalhas do combate.

E a si próprio dá as costas

Parou na encruzilhada.

Quantos tempos tem seu tempo?

e vê seu rosto sem barba

vaporizando o espelho.

Mas o rayban, seu invólucro,

onde havia um rosto e fósforos

que ainda sabem a pólvora,

Pondera em depor as armas,

ter seu sertão, criar cabras.

Pergunta: chegou a hora?

Se sonha com a cama limpa

e o amanhecer com pássaros,

entre o carnaval de Olinda

e um domingo com abraços,

pesará na troca o tédio

do sol se por sobre o mesmo.

Vai sempre haver uma agenda

o toque do imprevisto;

ir e vir, sem prévio aviso,

e uma voz de fêmea que queira

Aprecia narrativas

com algum toque de repente.

Foge das que ramificam-se

em ser felizes pra sempre.

Não quer seus dólares ou réis.

Gosta de ser ele a lei

entrar em vulvas e vidas

como quem percorre as vilas

onde não chegou o trem

Mas pensa em mudar de nome

e nesta guerra dar baixa.

Deixar a fama e a fome,

comprar um sítio, na várzea.

Soltará todos seus pássaros

quando o amor vier selado

Sonha em passar num concurso

criar cachorros e filhos

num condomínio sem luxo,

mas com conforto - só isso

(Foto: Acervo do Poeta)

Biografia

Astier Basílio é de Campina Grande (PB). Formado em Comunicação Social pela UEPB, é repórter do caderno 2 do jornal Correio da Paraíba, em João Pessoa. Já publicou 10 livros de poemas, entre os quais, "Finais em extinção" (2009, prêmio Correio das Artes). Dramaturgo, é co-autor da peça "Ariano", montada pela companhia Epigenia, do Rio de Janeiro, em 2007. É autor de folhetos de cordel, dois deles em parceria com Braulio Tavares e Glauco Mattoso. Participou como contista da coletânea "Tempo bom" (2010, Iluminuras, organização Sidney Rocha e Cristhiano Aguiar). Em 2011, foi premiado com o seu livro de contos "Varadouro, varadouro", prêmio edições Funesc, Paraíba.

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